Dia Internacional da Mulher: a força das fundadoras de startups

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Determinadas e destemidas, essas mulheres mostram que empreender não é apenas “abrir uma portinha”, é preciso gestão de processos

Se você é daquelas pessoas que concordam que a maioria das mulheres trabalha três turnos por dia para dar conta da vida profissional, da casa e da família, convido você a conhecer o mundo das fundadoras de startups. Vinte e quatro horas, às vezes, não são o suficiente.

Para falar delas, precisamos ter em mente o tamanho do esforço que todas despendem. De acordo com dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), que mapeou mais de 12 mil empreendimentos, apenas 15,7% dos empreendedores são do sexo feminino. E muitos são os desafios para que essa porcentagem aumente.

Com o empreendedorismo em suas veias, elas travam uma batalha diária para conseguir “vender o seu peixe” em um ambiente de negócios predominantemente masculino, enfrentam a dura batalha para conseguir investidores para suas ideias inovadoras e, ainda, têm de provar, constantemente, suas capacidades técnicas e seus conhecimentos de mercado.

No artigo de hoje, vamos falar do trabalho de três fundadoras de startups, que vivem momentos distintos em seus negócios, mas que têm, em comum, a determinação de levar adiante seus sonhos e o engajamento com o empreendedorismo feminino.

Sara Fernandes de Sousa, de 39 anos, mora na Grande São Paulo, é fundadora da Condopay que, ainda em 2021, pretende começar a oferecer serviços e facilidades bancários para condomínios como pessoa jurídica – conta corrente, cartão de crédito, emissão de boletos, entre outros.

Engenheira Química de formação, com MBA em Vendas e passagem por bancos, construção civil, manutenção aeronáutica, comunicação via satélite, além de ter morado em Angola, nos EUA e na Itália, enfrentou muita dificuldade quando resolveu voltar ao mercado de trabalho depois de um ano do nascimento do seu filho. “Ninguém queria alguém com uma criança pequena em sua bagagem. Foi nesse momento que senti a necessidade de empreender”, conta Sara.

Ela e o co-fundador da startup, um advogado especializado em atendimento de condomínios, fizeram um mapeamento de mercado e uma pesquisa com seus públicos-alvo para identificar a viabilidade do negócio e montar o business plan.

No meio do caminho, quanto um piloto já havia sido rodado com um parceiro operador de cartão de crédito, ele faliu e todo o trabalho, até então, teve de ser reavaliado. “Já tínhamos muitos cartões impressos, dinheiro investido e sentimos a urgência de encontrar um novo parceiro, o que acabou por atrasar a nossa entrada no mercado”, disse Sara.

Depois do susto, Sara contratou uma agência, uma consultoria, uma empresa de tecnologia para desenvolvimento da plataforma, alugou espaço e firmou parceria com um outro sistema de operação de cartão de crédito. “A falta de investimento para startups é uma das principais dificuldades para nós, empreendedores. Os investidores só querem colocar dinheiro quando a ideia já estiver trazendo receita”, comenta. “Depois de todos os imprevistos, de termos colocado muito suor e dinheiro para concretizar esse sonho, queremos lançar nosso produto ainda no primeiro semestre deste ano”, conta.

Hoje, Sara trabalha como PJ e gerencia sua startup paralelamente. “Meu objetivo é, em breve, viver do meu empreendimento, pois, no Brasil, a mulher é descartável no mercado corporativo. Quanto mais o tempo passa, menos valor ela tem. É a visão de mundo machista que ainda prevalece, infelizmente”, completa.

Mariana Freitas, baseada em São Paulo, é fundadora da startup Sirius App, que permite a todos os colaboradores de uma empresa trabalhar em uma única plataforma, com a mesma usabilidade, possibilitando a realização de reuniões, troca de mensagens, compartilhamento de arquivos, com privacidade e segurança da informação. 

Formada em Administração de Empresas, pós-graduada em Gestão de Negócios e com MBA em Vendas e Marketing, ganhou, em 2019, uma bolsa integral no Vale do Silício com foco em Blockchain e Inteligência Artificial e tem, em seu histórico profissional, a passagem por grandes empresas globais.

“A necessidade de empreender começou quando enxerguei, no mundo corporativo, uma oportunidade de criar uma plataforma com a mesma interface das redes sociais, que facilitasse a comunicação entre os colaboradores, evitando múltiplas plataformas”, conta Mariana. “Hoje, os colaboradores podem trabalhar de qualquer lugar com a facilidade de comunicação por celular. Nossa plataforma inclui pessoas de todas idades, departamentos e localidades”, completa.

Para Mariana, a predominância masculina no mercado B2B exige um esforço extra das mulheres para criar oportunidades e obter credibilidade, mostrar conhecimento e se posicionar. Como forma de ação para reverter esse cenário, participa de diversos programas que visam ao empoderamento das mulheres empreendedoras. “Relacionamentos encurtam caminhos e nos fortalecem”, afirma.

Mariana é Alumni da Vital Voices, aceleradora global de empoderamento econômico para mulheres líderes e Chapter Leader do DWEN, a rede global de mulheres empreendedoras da Dell.

Ela conta que sua maior dor, como empreendedora, é colocar em prática a resiliência, pois o mundo empreendedor é uma montanha-russa, onde as estratégias mudam constantemente.

“A mulher tem de estar sempre focada na autoconfiança, em ser prática e objetiva. Enxergo tudo isso como uma mola propulsora. Nós estamos inovando a forma de comunicar, colocando um pouco da emoção e da determinação feminina no mercado”, diz Mariana. “Temos de encarar esses desafios como forma de crescimento”, completa.

Jéssica Amorim tem 29 anos, é de Presidente Epitácio, região de Presidente Prudente, no oeste paulista. Ela é fundadora da startup Sou Protagonista, uma plataforma de assinatura de mentoria, onde ela ajuda empreendedores e empresários de pequenos negócios a estruturarem metodologias com foco em inovação, usando ferramentas de tecnologia que estão ao alcance de todos, em multiplataformas e com versões gratuitas.

Formada em análise de desenvolvimento de sistemas, tem experiência em consultoria, serviços e estratégicas comerciais e estruturação de empresas.

A ideia do negócio surgiu logo no início da pandemia, em março de 2020, quando sua demanda por mentoria, como autônoma, começou a aumentar. Os clientes eram empreendedores e pequenos empresários com muitas dificuldades em meio à crise e que não podiam pagar pelo seu serviço por conta do tíquete relativamente alto para aquele momento.

A solução encontrada por Jéssica foi a plataforma de assinatura, que permite atender a todos e às suas demandas a um custo muito baixo e com qualidade.

“A plataforma funciona como uma comunidade, com múltiplas ferramentas. São ministradas aulas ao vivo e gravadas durante a semana, atendendo às necessidades dos clientes de forma coletiva. O diferencial é que todos os pontos, os problemas e as dúvidas levantados nessas interações são tratados, de forma individual e pontualmente, por WhatsApp. O resultado vem rápido e a satisfação do cliente também”, explica.

Além disso, Jéssica conta com uma rede de parceiros bem-conceituados em todo o País, que contribui, com suas experiências, em diversas áreas. “É a cereja do bolo da mentoria”, afirma. “Agora, preciso buscar investimento para alavancar, mais rapidamente, o meu negócio. É uma luta diária, pois temos muitas oportunidades e, em diversos momentos, temos de caminhar devagar demais por conta da falta de confiança dos investidores”, desabafa.

Quando o assunto é mulher empreendedora, Jéssica afirma que não há como negar a discriminação e o preconceito que existem em um mercado predominantemente masculino.

“Somos desvalorizadas em relação aos nossos méritos como profissionais. Meus próprios clientes, às vezes, são resistentes às minhas orientações e só depois percebem que elas fazem sentido”, conta.

Com forma de contribuir para a mudança desse cenário, Jéssica promove e participa de mentorias somente para mulheres. “Temos de levantar a bandeira de que as mulheres podem e devem decidir o seu futuro. Não somos coadjuvantes. Somos protagonistas”, completa e deixa seu recado. “Empreender não é só abrir uma ‘portinha’. É preciso estruturar, provisionar, ter estratégia, saber como vai atrair o cliente, ouvir os feedbacks, estar nas redes sociais, estar atento à sua atualização profissional e de mercado. Acomodar-se, jamais!”, finaliza.

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Por Patrícia Motta – FNQ

 

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